sábado, 30 de maio de 2009

Viver Despenteia

Hoje aprendi que é preciso deixar que a vida te despenteie, por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade…
O mundo é louco, definitivamente louco…
O que é gostoso, engorda.
O que é lindo, custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia…
— Fazer amor, despenteia.
— Rir às gargalhadas, despenteia.
— Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
— Tirar a roupa, despenteia.
— Beijar a pessoa amada, despenteia.
— Brincar, despenteia.
— Cantar até ficar sem ar, despenteia.
— Dançar até duvidar se foi boa idéia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível…
Então, quando você me encontrar com o cabelo bagunçado… pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.
É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir.
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável, toda arrumada por dentro e por fora, o aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença:
Arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça, coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique séria… e talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenho que me sentir bonita? A pessoa mais bonita que posso ser!
O único que realmente importa é que ao me olhar no espelho, veja a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as pessoas:
Entregue-se...
Coma coisas gostosas,
Beije,
Abrace, dance, apaixone-se, relaxe, viaje, pule, durma tarde, acorde cedo, corra, voe, cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável.
Admire a paisagem, aproveite, e acima de tudo...
Deixe a vida te despentear!

(Autor/a Desconhecido/a)

sábado, 16 de maio de 2009

Mulher da Vida


Mulher da Vida, minha Irmã.

De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada dos mais torpes sinônimos, apelidos e apodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à-toa.

Mulher da Vida, minha irmã.


Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Possuídas e infamadas sempre por aqueles que um dia as lançaram na vida.
Marcadas.
Contaminadas,
Escorchadas.
Discriminadas.
Nenhum direito lhes assiste.

Nenhum estatuto ou norma as protege.
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, pisadas, maltratadas e renascidas.
Flor sombria, sementeira espinhal gerada nos viveiros da miséria, da pobreza e do abandono, enraizada em todos os quadrantes da Terra.
Um dia, numa cidade longínqua, essa mulher corria perseguida pelos homens que a tinham maculado. Aflita, ouvindo o tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras, ela encontrou-se com a Justiça.
A Justiça estendeu sua destra poderosa e lançou o repto milenar: “Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.
As pedras caíram e os cobradores deram as costas.
O Justo falou então a palavra de eqüidade:

“Ninguém te condenou, mulher... nem eu te condeno”.
A Justiça pesou a falta pelo peso do sacrifício e este excedeu àquela.

Vilipendiada, esmagada.
Possuída e enxovalhada, ela é a muralha que há milênios detém as urgências brutais do homem para que na sociedade possam coexistir a inocência, a castidade e a virtude.
Na fragilidade de sua carne maculada esbarra a exigência impiedosa do macho.
Sem cobertura de leis e sem proteção legal, ela atravessa a vida ultrajada e imprescindível, pisoteada, explorada, nem a sociedade a dispensa nem lhe reconhece direitos nem lhe dá proteção. E quem já alcançou o ideal dessa mulher, que um homem a tome pela mão, a levante, e diga: minha companheira.

Mulher da Vida, minha irmã.

No fim dos tempos.
No dia da Grande Justiça do Grande Juiz.
Serás remida e lavada de toda condenação.
E o juiz da Grande Justiça a vestirá de branco em novo batismo de purificação.

Limpará as máculas de sua vida humilhada e sacrificada para que a Família Humana possa subsistir sempre, estrutura sólida e indestrurível da sociedade, de todos os povos, de todos os tempos.

Mulher da Vida, minha irmã.

(Cora Coralina)

sábado, 9 de maio de 2009

Dá pra escolher

No interessante livro HOMEM LENTO, de J.M. Coetzee, há uma passagem que me marcou. É um confronto verbal entre o personagem principal do livro, um homem de mais de 60 anos que teve uma perna amputada depois de um acidente de bicicleta, e um garoto adolescente. Ambos estão no sombrio e decadente aparatamento do velho, que resmunga: "Eu fui ultrapassado pelo tempo. Este apartamento e tudo o que existe dentro dele foi ultrapassado pelo tempo". O garoto pergunta se ele não gosta de coisas novas. O velho (que nem é tão velho) responde: "Isso tudo um dia foi novo. Tudo no mundo um dia foi novo. Até eu fui novo. Na hora em que nasci, eu era a coisa mais moderna da face da terra".

Nada é tão moderno quanto nós ao nascermos. Sublinhei.

Prosseguindo o diálogo, o garoto então comenta, como quem não quer nada, que um dia foi visitar o avô para mostrar como funcionava um computador. O avô era bem velho e também tinha sido ultrapassado pelo tempo. Hoje fazia compras pela internet, enviava e-mails, recebia fotos."E daí?", pergunta o mal-humorado sem perna.

"Daí que dá pra escolher".

Eis uma frase, uma verdade, um verso: dá pra escolher.

Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher.

Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino.

Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos ou viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem-estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranqüilo ou aprender a lidar com o stress urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom-humor ou levar a vida na ponta da faca.

Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isto não se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. É ele que vai determinar se vamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda.

Dá pra escolher entre ser carnívoro ou vegetariano, entre fumar ou não, entre correr na praia ou ficar um pouco mais na cama, entre jogar paciência ou ler um livro, entre amores serenos ou amores turbulentos.Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer.

Pensando bem, acertos e erros nem estão em pauta aqui. O que importa é ter consciência de que ficar sentado esperando que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece.

Descansados da Silva, vem o tempo e crau: nos ultrapassa.

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Existência e Vida


Existir não viver:
É, apenas, estar na vida,
Sem dela participar,
Como o fruto não colhido
Putrefeito no ramo
Sem cumprir seu destino
Como a flor, no caule fenecida,
Cujo perfume a brisa leva
Inebriando evanescentes, sonhos
De estrelas cadentes.
Existir não viver:
É como a nave à deriva
Que não navega, flutua apenas,
Porque não tem rumo, destino,
Porto de encontro de saudades.
Ventos não traçam rumos
E ondas não têm estradas.
Viver é ser protagonista,
Existir apenas espectador
No labirinto da vida
Existir é não buscar a saída,
Viver é encontrá-la
E abri-la com a chave do amor.

(Osmar Nicolau Lucca - Publicado em Zero Hora em 04/05/2009)